quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Mogwai - The Hawk Is Howling



Seguindo os ensinamentos dos pais do post-rock, o Slint, o Mogwai não adotou em seu som orquestrações absurdas, silêncios monumentais ou a suavidade sem força de outras bandas que seguem essa linha (as que eu conheço).

Seu som é denso, simples na essência e trabalhado no fim, cheio de camadas e chavões do estilo; muralhas sonoras que, às vezes, te pegam de surpresa e te deslocam de tudo o que está acontecendo, sem a possibilidade de acompanhar coisa alguma.

As guitarras vêm sem dó, guiadas por uma bateria marcial e sutil, prontas para explodirem a qualquer momento em um crescendo de euforia, ou para guiarem você delicadamente por paisagens que, na maioria das vezes, não invocam felicidade (o que não impede ninguém de se sentir bem, ou feliz).

Em Hawk Is Howling, o Mogwai dá uma volta por três estados que se repetem o tempo todo enquanto tu caminha por uma estrada campestre, ou por uma rua lotada: tristeza, raiva e ternura.

Com o tempo, tu acaba se acostumando em sentir o coração que estava perto da boca ao som das linhas tão macias (e pesadas) de piano, voltar com tudo para o peito depois de um soco que quebra com a contemplação, e te coloca no meio de um turbilhão quase que primitivo, muitas vezes tenso e arrastado. Tudo para depois te recompensar com uma viagem pelo céu que, sem perceber, te deixa um sorriso no rosto com sua alegria quase boba.

É um disco que segue você a cada situação vivida, se ela te coloca para cima ou para baixo; toda audição em um momento diferente revela nuances que, antes, você pode nunca ter notado. Enriquece toda vez, basta paciência.


Aquele link esperto: (2008) The Hawk Is Howling

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Friends of Dean Martinez - Lost Horizon



Imagine o velho oeste bem daquele jeito que os filmes te mostram, com todos os clichês possíveis e um pouco mais: moçoilas oferecidas em saloons repletos de foras da lei que puxam o revolver se acharem que esse ás não veio de outro lugar senão da tua manga, e que puxam o gatilho se tu ainda teimar em olhar torto; coloque um sotaque caipira em cada palavra e feche com uma bola de feno passando pela rua no fim da tarde.

Agora imagine que o Mogwai é na verdade uma banda californiana do século XIX, e que eles não poderiam estar mais felizes de viver nessa época.

Por algum milagre, eles conseguiram colocar as mãos em guitarras elétricas, baixos, baterias e tudo o mais que eles precisavam para fazer os arranjos e melodias mais bonitas, serenas e sublimes de qualquer momento histórico.

A atmosfera é a melhor de todas, e é seguro dizer que se você tem algum amor no coração (e vá lá, gosta de guitarras bem tocadas), vai terminar de ouvir com a sensação de se estar mais leve do que estava quarenta minutos atrás.


Aquele link esperto: (2005) Lost Horizon

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Liars - (2006) Drum's Not Dead

   Texto escrito pelo amg Thales Lira.



   Tribal. Pesado. Denso. Todos esses adjetivos podem ser relacionados a esse álbum. Qual álbum você me pergunta, pequeno gafanhoto. Drum's Not Dead, da preferida banda psicótica-depressiva Liars.

   O disco é uma obra conceitual sobre duas forças antagônicas: Drum, o lado "positivo", criativo, prafrentex, e Mount Heart Attack, o depressivo, o estressado, em suma, qualquer um de nós que não toma prozac.

   Essa relação entre os dois é o combustível para que o álbum prossiga, alternando entre a perspectiva mais esperançosa de Drum e a depressão de Mount Heart Attack, mas não se engane achando que serão baladas de cortar o coração e canções ensolaradas, o clima geral é sufocante, bateria sempre presente em ritmo quase tribal, causando uma sensação de desconforto com poucos momentos de esperança , que é o caso de "The Other Side Of Mt. Heart Attack"; o título mostra que apesar de toda a carga negativa, Mt. Heart Attack também é capaz de fazer coisas boas. O clima dá música é sereno, com um backing vocal apoiando o quase lamento de Angus, em letras como:

 

I can always be found.

I will stay by your side,

And I want you to find me,

so I'll stay by your side.

 

   Viu? Até um maniaco-depressivo pode ser gentil. Essa canção é basicamente a redenção final, pois sendo a última do álbum, te deixa com a impressão de que apesar dos pesares, ainda existe uma esperança no mundo (Alô, Bono VOX!).

"Drum And The Uncomformable Can" tem uma bateria marcial, ditando o ritmo, em que Angus versa sobre o que o assassino tem que fazer depois de ter cometido o delito.    

  

   O clima geral é sufocante, tu esperando que a qualquer momento algo irá dar errado e a música irá descambar para uma barulheira infernal, o que não acontece, e a tensão prossegue nos quase 5 minutos te deixando cada vez mais TENSO.

Tensão é um adjetivo chave no som geral do disco, nenhuma música descamba para ápices de loucura e microfonia, o disco todo segue nessa linha da tensão, que te prende nessa aura negra, em que o menor ruído pode ser assustador, como no caso de "It's All Blooming Now Mt. Heart Attack".

   Um das mais agressivas do disco é "Let's Not Wrestle Mt. Heart Attack", que com "It Fit When I Was A Kid" poderia figurar numa pista de dança, junto com o primeiro álbum da trupe, isso se você tiver predileção por rituais satânicos e dançar em cima de corpos.

  

   Enfim, Drum's Not Dead é uma viagem densa, escura e por final redentora. Aconselho aos mais fortes de coração a ouvirem na integra enquanto caminham naquele beco escuro as três de manhã (cof cof Gordurama cof cof) e aos mais fracos, sentem, dêem o play e deixem a luz acesa, só por precaução.

   

   Pra downloadear: (2006) Drum's Not Dead


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Wilco e o Haiti


  O Wilco, para ajudar o Haiti em seu momento mais nefasto, disponibilizou em seu site dois shows que eles fizeram em 2009. Você pode baixar de graça, mas eles pedem pra você doar no mínimo $15. Se você não quiser colaborar por não ter, ou porque simplesmente só quer ouvir os shows, não se sinta culpado.

   A qualidade dos dois está bem boa, e o repertório é bem bacana também, com músicas do disco mais novo, que, pelo menos eu, nunca tinha ouvido ao vivo.

   No mais, estou preparando uma mixtape do Wilco, e logo menos posto. 

 

   Pra downloadear: Wilco

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sonic Youth - (2008) SYR8: Andre Sider Af Sonic Youth


   Eu deveria resenhar o segundo SYR, pra seguir a ordem, mas esse aqui é tão arrebatador, que merece um comentário à frente.

   SYR8: Andre Sider Af Sonic Youth é um EP ao vivo, com só uma faixa, gravado no Roskilde em 2005, mas lançado só em 2008. A língua usada é o dinamarquês (o festival rola na Dinamarca). Além dos membros normais, Jim O’Rourke tocou guitarra, Mats Gustafsson tocou saxofone e Merzbow fez algo com um laptop. O quê, eu não sei.

   O que pega mesmo nesse EP, é que a única faixa dele, tem 57 minutos. Reflita sobre.

   Não tem muito o que falar, é só barulho, ininterrupto. Um fórum anuncia que “vai machucar suas orelhas” (é o primeiro link da pesquisa, na verdade), e chega perto mesmo, em seu ápice, lá pelos 20 minutos. Kim Gordon até canta no começo, e em alguns outros momentos no decorrer da música, mas no fim, é só mais um jeito agravar o ruído. Além disso, o saxofone, aliado à estática das guitarras, é doentio. John Zorn ficaria orgulhoso.

   Eu achei que um show havia sido feito só pra gravação do disco, mas não, eles fizeram isso no Roskilde, um tremendo festival, até onde eu sei. Fico imaginando a tensão de quem estava lá, pra ver outra coisa, e se deparou com isso. É o mesmo efeito do Lightning Bolt, se formos levar em conta.

   Por fim, é seguro dizer que poucas pessoas vão baixar isso, levando em conta o tamanho da música, e o tamanho do arquivo. Mas vale a pena pra quem gosta de barulho, não necessariamente feito pelo Sonic Youth, e pra quem gosta do Sonic Youth, fazendo barulho.

   

   Pra downloadear: (2008) SYR8: Andre Sider Af Sonic Youth

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sonic Youth - (1997) SYR1: Anagrama


   Sonic Youth Recordings são EPs lançados pela banda, aparentemente de forma independente e fora da cronologia de discos de estúdio. Basicamente, são experimentações instrumentais, cheias de barulho, exageros e muitos minutos em cada música; reza a lenda que é tudo improviso, além de tudo. São oito SYR até agora, e uma coisa bem legal, é que cada um deles é escrito em uma língua diferente, indo do lituano, no sexto, ao esperanto, no terceiro.

   Isso é um geral, mas o que eu quero fazer é falar de cada um, a começar por Anagrama, o primeiro SYR, inteiro em francês. Como são só quatro faixas, dá pra comentar uma por uma:

   Anagrama tem nove minutos, e mesmo comparada às pirações dos discos anteriores, soa bem diferente. É toda instrumental, aparentemente improvisada, e o estouro, que vem depois de quatro minutos de música, é coisa fina mesmo. Parece algo do Godspeed You! Black Emperor, que vai ficando cada vez mais denso e ruidoso e caótico, mas bastante otimista.

   Improvisation Ajoutée é mais curta, e se formos levar pelo nome, não há dúvidas de que é um improviso. É só uma bateria marcando, quase inaudível, enquanto Lee Ranaldo e Thurston Moore brincam com as guitarras. É só barulho, levado por mundos de pedais, microfonia, estática, e guitarras fazendo o que guitarras normalmente não fazem. É bem bacana, e a cada audição, novos detalhes vão surgindo.

   Tremens (a tradução é exatamente o que parece) é a única que parece ser bem pensada, antes de executada. É quase uma música que o Liars poderia fazer, toda sombria, obscura, e ouso dizer, dumal. A guitarra, a maior parte do tempo, repete um riff que por alguma razão bate fundo quando você ouve a música, e causa nada mais do que tensão. É quase impossível não sentir isso enquanto a música vai se desenrolando. Uma tremenda vitória do disco.

   Mieux: De Corrosion é como Improvisation Ajoutée: barulho. Só que aqui, isso é colocado ao extremo. É puro caos, que não pára um minuto sequer durante os quase sete minutos da música. O nome (melhor: de/a corrosão) não poderia ser mais feliz. Essa é a perfeição pra quem gosta de barulho, mas que não gosta de ouvir outra coisa antes disso. Nada é poupado, inclusive você, da corrosão proposta.

  

   Pra downloadear: (1997) SYR1: Anagrama

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Liars - (2010) Sisterworld

   

   Uma resenha rápida, sem conhecimento algum da causa. Só pra não deixar passar.

   O Liars é um trio dos EUAzes, que eu não sei onde encaixar, em questão de gênero. A Wikipedia me diz que eles fazem rock experimental, dance-punk, post-punk revival, noise rock e art punk. Bom, eles são experimentais, fazem barulho e também umas músicas que ninguém se importaria em dançar. Às vezes não é tão difícil catalogar algo.

   “Sisterworld”é aparentemente mais complexo que os outros (que eu conheço): ele tem muitos orquestrados, com sopros e instrumentos mais comuns na música clássica, mas dão um jeito de incluir nisso a psicose da banda, com guitarras, sintetizadores e coisas presentes anteriormente. Isso deixa o som mais completo, cheio, sascoisas. E isso é uma das primeiras coisas que se nota.

   A outra é que o disco todo é bem psicótico, e os momentos mais pesados só realçam isso. A atmosfera é densa, e o som sempre parece te puxar pra baixo. Dá pra explicar tecnicamente como eles fazem isso, a colocação dos acordes, tonalidades e talz, mas eu não tenho certeza se está certo. Basta dizer que a música cresce, pra baixo.

   “Scissor” e “No Barrier Fun” mostram isso de forma bem clara. Ambas começam lentas, e vão ganhando forma conforme a música anda, com explosão na primeira, e aumentos mais leves na segunda. Os riffs são doentes, de uma forma sutil, e dá pra ver bem a colocação, principalmente, do que eu acho ser um cello ou um contrabaixo. E esses instrumentos são naturalmente “tristes”. Nas mãos deles, o estrago é absurdo. Pianos desordenados também entram na brincadeira em “Drip”, junto com o que parece ser um sintetizador dando o fundo.

   “Scarecrows On A Killer Slant” é a primeira faixa sem nenhum elemento anterior. É rápida, distorcida, ruidosa, e bastante tensa. Se pex a “Broken Witch” do disco. E dá até pra imaginar ela, junto com “The Overachievers” em uma pista de dança. Tudo depende de quão mórbido você é.

   “Goodnight Everything” podia muito bem fechar o disco, seja pelo nome, ou pela música em si. Começa toda grandiosa, e vai se formando com o sopro, até chegar ao ápice com as guitarras, daquele jeito fechado.Vale notar, que durante toda a música rolam uns barulhos estranhos, como se fossem robôs sendo construídos, ou algo sendo soldado. “I Still Can See An Outside World” segue a mesma linha.

   É um disco bem pensado, por sinal, com construções bem bacanas em cada música, e com maior sutileza, em grande parte do tempo, seja no vocal, ou na música. Tudo é bem coerente, e em algumas músicas, como ”Too Much, Too Much”, a impressão que se tem é de se estar seguindo uma história, conforme o ritmo te leva, e isso é um grande atrativo.

   Por fim, apesar de tudo que dizem dos outros, esse disco é o mais apavorante dos Liars. Tudo é tensão pura; a trilha pra algo ruim que pode acontecer. Como diria o Gordura, “andar pelas ruas desertas da cidade escutando isso é a forma de descobrir se tu é um cara durão ou não”. É um disco de dar medo. Não de fazer você ter pesadelos à noite, mas pelo menos pra fazer você dizer “porra, isso é sinistro pra caraleo”.

   

   Pra downloadear: (2010) Sisterworld